Aplicação e Validação de Protocolo de Avaliação Fonoaudiológica em crianças não alfabetizadas da Faculdade de Medicina do ABC (2009)

junho

  • Aplicação e Validação de Protocolo de Avaliação Fonoaudiológica em crianças não alfabetizadas da Faculdade de Medicina do ABC (2009)

    Autoras: Fabiane Rodrigues; Paula Érika Ferreira Miyaji; Renata Flôr de Souza, Rosana M.R.Sanfelippo da Silva, Adriana Nascimento Gabanini, Rubens Wajnsztejn

     

     I – INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

     

    Os estudos sobre a história da Fonoaudiologia demonstram grande identidade com a área da educação; também sabemos que a participação do fonoaudiólogo no nível da educação pré-escolar é de fundamental importância, em função das rápidas e significativas transformações que ocorrem em vários aspectos do desenvolvimento da criança e que a intervenção nesse período pode ter resultados mais produtivos (CAVALHEIRO, 1997).

    Dentre os diversos aspectos abordados nessa área, o desenvolvimento cognitivo assume um papel importante, visto ser considerado como um processo de formação da própria inteligência e esta por sua vez como a capacidade de estabelecer relações entre objetos, eventos ou situações para com isso construir novos conhecimentos: físico, lógico, matemático e social, permitindo ser a linguagem a condutora do saber, promovendo o desenvolvimento do raciocínio. (ZORZI, 1995).

    O mesmo autor (1995) afirma que a criança adquire conhecimentos através do uso da linguagem, posto que esta faz uso da capacidade receptiva (conhecimento de vocabulário e compreensão), da capacidade de memória (fixar o aprendizado) e a capacidade expressiva (significado e estrutura gramatical). Além disso, é como se promovesse o desenvolvimento do pensamento através de uma inteligência prática (não verbal). Qualquer que seja o modo como um atraso de linguagem se manifeste, seja na capacidade expressiva ou decorrente de alterações globais de desenvolvimento, o profissional deve estar atento para detectar tais alterações.

    Sabe-se que a comunicação faz-se por meio da linguagem, faculdade humana e abstrata de representação de conteúdos e diz respeito á elaboração e simbolização do pensamento, constituindo o veículo essencial que compreende tanto a forma não-verbal (expressão facial e corporal, gestos, riso, choro,etc) quanto a verbal, manifestada pela fala que permite exteriorizar o pensamento com o uso de palavras, necessidade vital do ser humano na busca de novas experiências e conhecimentos, sendo um ato social fundamental em nossas vidas (RUSSO, 1997).

    A Linguagem exerce um papel central nas dificuldades específicas de aprendizagem;  entretanto qualquer distúrbio que envolva a linguagem receptiva (compreensão) pode ser interpretada como preguiça, indisciplina ou falta de inteligência por parte do adulto; já na linguagem expressiva  as crianças geralmente são consideradas temperamentais devido à frustração, tímidas ou arredias. Por último, incluímos a fala e o quanto ela é clara e fluente, sendo a criança vista como desajeitada,  confusa e de difícil entendimento (SELIKOWITZ, 2001).

    As crianças aprendem as regras da linguagem ainda muito pequenas, apenas por meio do seu uso, sem instrução formal, pois o próprio meio é um fator significante para essa aprendizagem. Elas se apropriam do código e adquirem as particularidades da língua das pessoas que a cercam. Quando entram na pré-escola  já dominam sua língua nativa de forma competente, têm um vocabulário considerável e sabem usar as regras gramaticais; entretanto, podem ocorrer falhas nesse processo gerando dificuldades específicas de escolaridade que necessitam de intervenção.

    Os conceitos de prontidão, maturidade, habilidades motoras e perceptuais não são vistos isoladamente, mas vinculados ao contexto da realidade sócio-cultural do indivíduo. Eles podem explicar as diferenças individuais e os diferentes ritmos dos alunos. (ADRIANE et al, 2008).

    Sabe-se que crianças pequenas que ainda não possuem o código alfabético já apresentam discretamente traços de consciência fonológica CIELO (2002). Sabemos também que entre três e quatro anos de idade as crianças já dominam rimas e aliterações, pré-requisitos para a aquisição da leitura e escrita ROTH e BADEN (2001).

    Muitos pesquisadores têm se interessado em caracterizar os desvios fonológicos como sendo um tipo de desorganização, inadaptação ou anormalidade do sistema de sons na criança em relação ao sistema padrão de sua comunidade lingüistica, inexistindo quaisquer comprometimentos orgânicos, mas causando prejuízos na escolaridade. (GRUNWELL, 1990)

    Estudos a respeito do treinamento de consciência fonológica em crianças mostraram aumento nas habilidades para leitura significativamente mais altas do que nas crianças que não sofreram esta estimulação, comprovando que as habilidades da consciência fonológica influenciam na leitura, havendo uma associação entre a consciência fonológica e a aquisição do letramento. (PAULA, et al 2005), (BLAIKLOCK, 2004) e (BRITTO, et al 2006).

    Assim, a importância da estimulação da consciência fonológica e fonêmica na pré-escola é fundamental no aprendizado da leitura e escrita, habilidades que não são adquiridas espontaneamente pela maioria das crianças. Para algumas delas o processamento das informações fonológicas acontece de maneira diferente do esperado.

    Acreditamos que a avaliação  relacionada aos aspectos segmentares da fala e habilidades perceptuais  possibilita o conhecimento real das dificuldades que norteiam a aquisição e desenvolvimento da atenção, fala, raciocínio e outras habilidades que envolvem a aprendizagem. Isso está de acordo com a proposta de GARCIA, et al 2006.

    Outro estudo buscou mostrar a relação entre a prova de Nomeação Automática Rápida e a prova de Consciência Fonológica e dificuldades de aprendizagem, uma vez que evidenciou maior relação velocidade/tempo em tarefas de nomeação e, conseqüentemente, desempenho inferior em tarefas de consciência fonológica quando comparados um grupo controle sem queixas de dificuldades de aprendizagem, pois envolve a capacidade de acesso lexical, discriminação visual, freqüência de uso dos estímulos e competição para a apresentação do menor tempo possível na nomeação dos códigos necessários para o estabelecimento do mecanismo de conversão fonema-grafema exigido para a realização da leitura e escrita em um sistema alfabético como o português. (CAPELLINI & CONRADO, 2009).

    Por outro lado, consideramos que a estimulação da linguagem no meio familiar desempenhe uma função primordial favorecendo a inteligência, porque  ambas são funções superiores vitais para o desenvolvimento não só escolar como profissional do indivíduo, estando significativamente associadas. Ademais, fatores biológicos e hereditários são correlacionados com fatores sociais e performance cognitiva; esses podem ser considerados planos de  política da saúde para o desenvolvimento infantil, implementando estratégias multidisciplinares (SCHONHAUT, et al, 2008).

    MOTA (2008) descreve em seu estudo o papel da escolarização no desenvolvimento da consciência sintática, assim como diferentes níveis de habilidades metalingüísticas são necessários para a realização de diferentes testes de consciência sintática.

    RUSSO (1997) comenta sobre a importância de fornecermos para a criança pistas visual, cinestésica e vibratória, bem como a organização têmporo-espacial, análise-síntese, figura-fundo, fechamento e memória auditiva, a fim de favorecer o desempenho deste na escola.

    Portanto, quando nos deparamos com uma criança que vem apresentando uma dificuldade para aprender  devem-se levantar com alto grau de profundidade as características da estimulação oferecidas à criança nos aspectos quantidade, qualidade, acessibilidade , disponibilidade, exclusividade e incondicionalidade, que colaborarão para a hipótese diagnóstica adotada (Jardini & Patrícia, 2006).

    JARDINI & PATRÍCIA (2006) afirmam que a Fonoaudiologia tem descrito, em seu código de ética (lei 6965/81, versão 2004) o propósito de prevenir os distúrbios e dificuldades da leitura e escrita, dispondo de metodologias e técnicas que promovam resultados controláveis e avaliáveis, considerando as dimensões sociais de cada sujeito, bem como colaborar para a educação de nossas crianças, valorizando a linguagem.

    São de extrema importância instrumentos padronizados de avaliação da linguagem que permitam detecção precoce de atraso de linguagem e intervenção precoce para prevenir fracasso escolar (MACEDO et al, 2006).

    (SCHONHAUT, et al. 2007) Apontam que as dificuldades de linguagem iniciam no contexto familiar, escolar e social, sendo fundamental a pesquisa e intervenção precoce visando à atenção primária, pois se trata de um marco no desenvolvimento psicomotor infantil e que abrange diversos aspectos.

    De acordo com CAPOVILLA & DIAS (2008) dentre as habilidades da linguagem oral avaliadas na pré-escola  encontram-se a Prova de Consciência Fonológica por produção Oral (PCFO), Prova de Consciência Sintática (PCS), Teste de Discriminação Fonológica, Teste de Repetição de Palavras e Pseudopalavras (TRPP), Teste Infantil de Nomeação, Teste de Conhecimento de Letra (TCL) e Teste de Vocabulário por Imagens Peabody, ou seja, aspectos decisivos para a aquisição da linguagem escrita.

    Desta forma, devem-se investigar de modo sistematizado os aspectos clínicos da linguagem  por meio de um protocolo aplicado e validado na Língua Portuguesa do Brasil e que aborde a aprendizagem.

     

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